O primeiro bar de uma vila que se transformou em bairro. Um boteco das antigas, um ambiente de risadas e muita história exposta nas velhas paredes gastas pelo tempo, mas resistentes como um diamante. O bar do Jair, no Fanny, existe há 68 anos, e parece estar na jovialidade do dono, um descendente de alemão com ucraniano que não esconde a paixão pelo Coritiba e Botafogo.
Jair Less, 71 anos, é daqueles donos de boteco em que é bom ser amigo. Papo agradável, atencioso e disposto a manter regras no local para evitar discussões mais ásperas, como a proibição da “jogatina”. A história do local situado na esquina da Rua Major Vicente de Castro com a Coronel Izantino Pinho, remete ao ano de 1957.
O pai do Jair, André Less, e os tios Adolfo, Miguel e Martins, construíram com as próprias mãos o estabelecimento que na época era uma mercearia com todos os tipos de produtos para uma comunidade que engatinhava na capital. “Não tinha nada na região, nem luz. Usava lampião aqui dentro, e meu pai sempre foi um comerciante de mão cheia. Trabalhava como eletricista e encanador, fora que tinha um tino comercial espetacular”, recorda Jair, que aos quatro anos presenciou a construção do bar que antes tinha o nome do pai.
Com o ar do tempo, o boteco manteve a tradição de abraçar a vizinhança com o famoso caderninho da pendura. Estruturalmente pouco mudou, o chão segue com a mesma cor avermelhada que virou tradição em casas e comércios da década de 50 e 60 com o uso de caliça para baratear no preço ou mesmo as antigas cachaças penduradas em prateleiras de madeira. Jair seguiu por anos outro caminho, mas o sangue botequeiro bateu forte no momento que mais precisou.
“Cheguei a servir em Brasília, uma honra. Fui trabalhar em uma distribuidora de remédios, depois representante comercial e voltei ao bar há 25 anos. Assumi após a morte do pai e gosto de atender o pessoal”, comentou emocionado Jair, esposa da Jussara há 44 anos.





Batida de milho e veteranos do Fanny
Uma das especialidades do bar do Jair é a famosa batida de milho, uma novidade nos botecos. É mais comum encontrar a batidinha de maracujá, coco e morango, e confesso que surpreendeu. Bem cremosa e perfeita combinação com uma anchovinha no Jair. “Ela é diferente, vendo de 10 a 15 litros na semana. É artesanal e bem feita”, valorizou o proprietário.
Ainda no bar, o balcão reforçado comporta copos e cotovelos de clientes ávidos por uma cerveja. Ao olhar para o alto, canecas de cerâmica e mais de 350 latas de cerveja cheias. “Já teve mais de 1000, mas algumas estouraram. Ainda tem aquelas garrafas de cachaça que não existem, uma relíquia”, avisou Jair, um ex-zagueiro do Vila Fanny, o Gigante da BR, equipe seis vezes campeã da suburbana.
Falando na equipe, é comum aos sábados, os veteranos campeões ou mesmo outros que só aram pelo clube, se reunirem no boteco. “É muito bom, são histórias que são relembradas. Como diz por aí, recordar é viver”, exaltou o coxa-branca e botafoguense Jair, o avô da Helena.






Tribuna do Paraná
A Tribuna está diariamente no Bar do Jair. É uma relação antiga que deixa os clientes informados dos acontecimentos ou mesmo pelos recortes que o dono realiza para colar no mural. Em vários pontos do boteco, as edições do jornal são vistas e vira motivo de brincadeira quando o assunto é futebol.
“Sou leitor assíduo da Tribuna, se faltar o jornal o pessoal reclama. A velha guarda gosta de ver Triboladas, loterias, jogos e agora o Caçador de Boteco”, avisou Jair. A Tribuna do Paraná que agradece a confiança e a companhia por décadas, longa vida ao bar que um dia foi de vila e hoje é de bairro. Viva o Jair!





Bar do Jair
Endereço: Rua Major Vicente de Castro, 430 – Fanny, Curitiba.
Horário de funcionamento: segunda a sábado das 10h às 20h30.
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